Você já parou para pensar o quanto a memória é importante para a sua vida e como ela pode dizer sobre a sua saúde física, mental e o equilíbrio do seu cérebro?
E você sabia que o neurofeedback é uma técnica que pode ajudar a potencializar e manter a sua memória?
Eu sou Marcelo Rutzen e neste texto abordarei este tema amplo, complexo e fascinante!
As quatro fases da memória
Existem, basicamente, quatro fases conhecidas para a memória: atenção, compreensão, armazenamento e recuperação.
Atenção
Desde pequenos, aprendemos sobre o mundo ao nosso redor, “apreendemos esse mundo” e o internalizamos. Isso implica na formação de memórias!
A atenção desempenha um papel fundamental no início do processo de memorização. Sem a capacidade de concentração e direcionamento da atenção, as chances de desenvolver uma boa memória são reduzidas. Isso é especialmente verdadeiro para a memória autobiográfica, aquela que usamos para expressar quem somos, no que acreditamos e que nos auxilia a traçar nossos objetivos.
Ao não desenvolver uma boa memória, as chances de uma pessoa não conseguir aprender também aumentam. A dificuldade de aprendizado, por sua vez, está relacionada a repercussões em diferentes áreas da vida, como social, motora e linguística. São diversas as dificuldades que podem surgir em decorrência disso, pois a memória não se limita apenas a lembrar nomes de objetos ou números de telefone. Ela é uma função muito mais abrangente que envolve todo o cérebro.
A atenção é um aspecto crucial, e aqui já temos um elemento que é constantemente trabalhado no treinamento cerebral com neurofeedback, na abordagem utilizada pela Brain-Trainer. Isso ocorre porque sempre trabalhamos com o cérebro como um todo (whole brain-training), e uma das modalidades de treinamento é focada nos aspectos atencionais.
Dessa forma, ao realizar um treinamento com neurofeedback, estamos sempre aprimorando a atenção. Isso tem um impacto positivo na memória, pois direcionar a atenção é essencial para registrar aspectos importantes na memória.
Compreensão
O segundo aspecto relacionado à memória, para que possamos ter uma boa memória, é a compreensão. É preciso conseguir compreender aquilo que está acontecendo.
Além de captar uma informação ou um conjunto de informações da experiência, é necessário compreender.
Compreender a informação significa entender a lógica, as conexões das informações. Você tende a memorizar com muito mais facilidade a informação que você entende e não a que você decora.
A compreensão exige uma boa rede, uma boa capacidade conectiva, um cérebro que se comunica bem, que tem todas as suas áreas bem interconectadas.
Nisso, também, o neurofeedback mostra-se importante!
Pois a boa capacidade de compreensão ocorre principalmente se houver um equilíbrio entre os dois hemisférios. É preciso ter o hemisfério direito e o hemisfério esquerdo bem equilibrados para que possa haver a compreensão.
No hemisfério esquerdo, registramos mais palavras, os sentidos das palavras, os conceitos sobre o que significa isso, sobre o que é esse objeto, o que é essa ação.
Mas precisamos do hemisfério direito, que é responsável por tentar decifrar as coisas que são estranhas ou reconhecíveis no mundo e se elas pertencem ou não a alguma categoria, para ajudar a estabelecer um contexto.
Porque um objeto, uma palavra, dependendo do contexto, vai ter um significado completamente diferente.
O hemisfério direito também trabalha com as nuances, com os detalhes do tom de voz, por exemplo. Então, se o tom de voz varia numa palavra, pode alterar o significado.
Precisamos desses dois hemisférios funcionando de forma equilibrada para ter uma boa compreensão e, ao ter uma boa compreensão, realizamos a próxima etapa que é armazenar a memória.
A compreensão exige um bom equilíbrio cerebral e aí entra o neurofeedback, mais uma vez, por trabalhar as conexões entre o cérebro, equilibrar os dois hemisférios ou diversas regiões mais profundas.
Fazemos isso no treino do cérebro inteiro, conseguindo assim melhorar a capacidade de compreensão e, consequentemente, tornar o armazenamento mais fácil de ser executado.
Relembrando então: É preciso ter atenção, é preciso ter compreensão.
E vamos à próxima fase!
Armazenamento
A internet, livros, jornais e novas ferramentas de comunicação proporcionam mais informações para o nosso cérebro, mas o ser humano sempre terá acesso a uma quantidade muito maior de informações do que o cérebro é capaz de armazenar.
Para realizar um bom armazenamento, é necessário que existam estruturas adequadas e, principalmente, que a pessoa, além de possuir a capacidade de atenção e compreensão, mantenha um bom equilíbrio emocional.
A experiência em si não deve ser excessivamente exaustiva ou desgastante para a pessoa, pois isso interferirá na capacidade de memória. Em momentos de exaustão, desespero ou dificuldade extrema, todo o esforço do cérebro será direcionado para a manutenção da vida e não para o registro de memória.
É verdade que podem ocorrer alguns registros de memória em situações de tensão ou estresse extremo, mas, na maioria das vezes, essas memórias são do tipo que se relaciona à proteção, como “Não chegue perto” ou “Saia de perto”. No entanto, essas memórias não são geralmente do tipo necessário para obter um bom desempenho, que é guardar informações sobre o mundo e aprender como nos adaptar melhor a cada circunstância do dia a dia.
Conseguimos armazenar memórias em momentos de tensão ou estresse extremo, mas são informações importantes apenas para garantir a sobrevivência, não para assegurar a adaptação, que é o aspecto mais importante para a nossa vida.
Recuperação
Nosso cérebro hierarquiza as informações, e a recuperação é a maior evidência disso. Associações como cor, cheiro e som fornecem pistas para a informação que precisamos lembrar, facilitando a recuperação.
Outro aspecto importante da memória, uma quarta fase da memória, é a capacidade de recuperá-la.
Para recuperar a memória, é necessário ter absorvido a experiência de maneira abrangente, com diversos estímulos e sensações. A memória inclui estímulos visuais, auditivos e internos relacionados a como estou me sentindo e como estão minhas emoções, bem como o funcionamento interno.
Se a experiência for rica, torna-se muito mais fácil algum elemento dela facilitar o resgate dessa memória.
Assim, ter um cérebro tranquilo, sereno, com bom equilíbrio emocional, sem um alto nível de estresse ou sem dificuldades entre as redes cerebrais, proporcionará uma facilidade maior na recuperação da memória.
Ao conseguir recuperar a memória, é possível adaptar-se.
Participar de um evento ou experiência, seja na escola ou no trabalho, qualquer coisa que precise ser aprendida, envolver-se profundamente com essa experiência, mantendo um bom equilíbrio cerebral e a capacidade de regular o nível de estresse, resultará na gravação dessa memória.
Cada vez que algo no ambiente estiver conectado a essa memória, seja em uma prova, uma questão a ser resolvida ou no dia a dia do trabalho, os elementos relacionados serão recuperados mais facilmente em um estado tranquilo, emocionalmente resiliente e com todo o cérebro bem conectado.
Um cérebro saudável forma e recupera bem as memórias
Você já teve acesso às quatro fases da memória até este ponto e percebeu que, para que elas ocorram de maneira eficaz, é fundamental contar com um cérebro bem equilibrado.
O treinamento cerebral utilizando a metodologia Brain-Trainer de neurofeedback é uma técnica que promove esse equilíbrio tão necessário.
Como a repetição e estruturas cerebrais afetam o aprendizado
A repetição ajuda na memorização?
O cérebro é focado em mapear nossa experiência, buscando e fixando padrões que se repetem, com o objetivo de economizar energia, aprimorando nossa performance e adaptabilidade diante da vida.
Após fixar um padrão que considere importante, ou seja, algo que ocorre sempre, ele não precisará de tanto esforço e energia para reconhecer e/ou reagir, nas próximas vezes em que for exposto a ele.
Note que envolve ter bons níveis de sensibilidade, nutrição, irrigação sanguínea, capacidade atencional, equilíbrio emocional, qualidade de sono… muito além da simples repetição de uma informação!
Sim, vivenciar plenamente as experiências e repetidas vezes pode auxiliar na consolidação das memórias (padrões), que serão úteis para um melhor desempenho e autorregulação do organismo.
Porém, por envolver diversos aspectos, é fundamental ter todo o cérebro bem equilibrado, como buscamos promover com a metodologia do Sistema Brain-Trainer, por meio do neurofeedback.
Pois a repetição, por si só, não garantirá uma boa capacidade de memorizar, nem os benefícios de adaptação, bem-estar e saúde que esta poderia oferecer ao organismo.
A capacidade de memorização é distribuída por todo o organismo, não somente em locais específicos do cérebro, como o conhecido hipocampo.
Porém, para melhor entendimento, podemos classificar que, didaticamente, quanto aos tipos de memória, existem dois grandes grupos:
Grandes grupos
Memórias explícitas
As memórias explícitas estão relacionadas ao que tentamos registrar conscientemente.
Por exemplo, ao ler este texto, você busca manter a atenção, compreender as informações apresentadas, armazená-las e, possivelmente, recuperá-las quando necessário para trabalhar com a memória ou entender seus processos.
Essa é a natureza da memória explícita.
Memória implícita
A memória implícita é aquela que adquirimos de maneira inconsciente e “sem esforço” consciente, como lembrar uma música que toca constantemente no ambiente em que estamos.
Você vai armazenando aquela música e de repente sai cantarolando. Você pode não ter nem ideia de como aprendeu a música, mas aprendeu.
Essa memória é frequentemente desenvolvida durante atividades lúdicas também, como brincadeiras de crianças. Por meio dessas atividades, elas aprendem habilidades motoras, intelectuais e relacionamentos sem um esforço consciente.
Enquanto brincam, as crianças estão o tempo inteiro aprendendo.
E elas não estão exatamente com a consciência focada no que aprendem, mas envolvidas em uma experiência de brincadeira: subir na árvore, descer de árvore, andar de bicicleta, tentar andar de bicicleta brincando, aprender a andar de skate ou qualquer tipo de atividade que envolva motricidade e capacidade intelectual.
Esta é a memória implícita.
Estruturas distintas para cada grupo de memórias
Existem dois grandes grupos de memórias (explícitas e implícitas), ambas muito importantes, e eles envolvem estruturas cerebrais distintas.
O objetivo aqui não é aprofundar-se nos detalhes, mas sim compreender um pouco melhor as áreas do cérebro envolvidas em cada tipo de memória.
Estruturas cerebrais da memória explícita
A memória explícita, que é a mais consciente, está relacionada principalmente a duas grandes estruturas cerebrais.
A primeira delas é o córtex pré-frontal, localizado na região da testa. Essa área do cérebro é responsável por organizar e avaliar os estímulos sensoriais, garantindo nossa atenção e organização das informações.
O córtex pré-frontal auxilia na compreensão e análise das experiências, ordenando sequências e antecipando eventos. Isso é crucial para a memória explícita, especialmente no aprendizado.
Por exemplo, se não deciframos/entendemos o mecanismo de um cálculo matemático e suas etapas, algo que é realizado no córtex parietal (uma outra região cerebral), o pré-frontal terá dificuldade em apreender essa sequência.
É por isso que a didática é fundamental no ensino de qualquer assunto.
É crucial estabelecer uma sequência para que o córtex pré-frontal compreenda a organização dos eventos e priorize os estímulos mais importantes. Por exemplo, quando estamos tentando aprender algo, é essencial manter o silêncio e focar no objeto de estudo. A atenção é um elemento-chave nesse processo, e o córtex pré-frontal trabalha intensamente nesse aspecto.
Para aprendizados escolares e de linguagem, a região temporal do cérebro, localizada acima das orelhas, é fundamental. Nessa área, encontramos estruturas como o hipocampo, responsável por organizar o registro de nossas experiências.
Portanto, o córtex pré-frontal e as áreas temporais são as duas principais estruturas envolvidas no armazenamento da memória explícita, que utilizamos para explicar eventos, expressar pensamentos de forma consciente e compreender o que está acontecendo ao nosso redor.
Essas estruturas são essenciais para termos uma boa capacidade de absorver e interpretar o mundo.
Estruturas cerebrais da memória implícita
A memória implícita também é fundamental, pois é impossível captar bem uma experiência sem vivenciá-la.
No aprendizado motor, como fazer uma receita ou andar de bicicleta, precisamos da memória implícita para absorver os detalhes e também vivenciar a experiência com nosso próprio corpo. Isso envolve aprender hábitos e movimentos e organizar nosso corpo para responder a essas situações.
As estruturas cerebrais responsáveis por isso são os gânglios basais, localizados na base do cérebro, e o cerebelo, ambos fundamentais para a memória implícita.
A amígdala, outra estrutura importante, atua como nosso sensor e alarme, indicando se algo é mais ou menos perigoso e envolvendo aspectos emocionais e inseguranças. A amígdala fornece alertas e sinalizações que podem influenciar nossa memória.
Embora essas estruturas sejam didaticamente separadas, elas fazem parte da nossa memória como um todo.
Memória de longo e curto prazo
Além das estruturas da memória explícita e implícita, precisamos entender mais sobre memórias de longo e curto prazo.
As memórias explícitas e implícitas, aquelas que vamos absorvendo e fixando, são consideradas memórias de longo prazo. Por exemplo, aprender a andar de bicicleta e lembrar-se disso pelo resto da vida.
Aprendemos assuntos na escola ou no trabalho, como fazer uma tarefa ou detalhes sobre um trabalho, e aquilo fica por anos na nossa mente. Às vezes, a vida toda, e não esquecemos mais. Essas memórias são consideradas de longo prazo.
Entretanto, também temos memórias de curto prazo, que são aquelas que retemos por um período mais curto, como lembrar um número de telefone que acabamos de ouvir.
Memória Curto Prazo ou Memória de Trabalho
A região pré-frontal do nosso cérebro é considerada uma das responsáveis pela memória de trabalho, chamada também de memória de curto prazo. Isto porque é esta a região que trabalha na organização dos eventos que estão ocorrendo.
Um exemplo de memória de curto prazo também é aquela que tem relação com todo o meu aparelho sensorial. Quando busco decifrar pelos sentidos o que está acontecendo, ou quando resgato uma lembrança e busco revivê-la.
Esta busca de relembrar e reviver envolve usar todo o meu aparelho sensorial, eu lembro o cheiro, a sensação e evoco isso para o presente por alguns instantes criando uma memória de curto prazo a partir de um evento passado. Mantendo-o vivo em mim por alguns momentos e logo desprendendo desta experiência.
Toda a parte sensorial e o pré-frontal estão muito relacionadas à memória de curto prazo.
Estruturas cerebrais relacionadas à memórias de longo prazo
As memórias de longo prazo estão mais relacionadas ao hipocampo, área do cérebro em que a gente vai fazer o armazenamento das experiências. Também estão relacionadas com a região conhecida por gânglios basais e com o cerebelo.
Estas estruturas registram os nossos hábitos de vida.
A forma como a gente se mexe, a forma como a gente age no mundo, os nossos ritmos de funcionamento. Independente da qualidade de como isso acontece, fica registrado no nosso aprendizado de longo prazo.
É preciso períodos de descanso para o cérebro poder estabelecer registros de memórias, de uma boa qualidade de sono.
Além de ter a experiência e reviver a experiência algumas vezes, possibilitando transpor da memória de curto prazo para a memória de longo prazo.
Estruturas cerebrais relacionadas a detalhes da memória
Atualmente já são conhecidas várias estruturas associadas com detalhes da memória.
Existe uma região no centro do cérebro chamada tálamo. Ela recebe a maior parte dos estímulos que chegam para nós e dirige nossa atenção, direcionando-a.
Enquanto o pré-frontal vai ser a estrutura a organizar essa atenção. Filtrando o que é importante para o momento, nos ajudando a entender.
O que chegou de estímulos na região do tálamo vai ser processado em todo o córtex sensorial. Toda a parte de trás da cabeça. E o pré-frontal precisa fazer o papel de organizar essa sequência.
Temos mais estruturas, como os gânglios da base, que ficam no centro do cérebro e estão associadas com memórias de habilidades instintivas. Como eu reajo!
Principalmente aos medos e situações de estranheza…
Aquele tipo de abordagem que acontece da seguinte maneira: “Eu não sei bem o que está acontecendo, mas eu tenho reações” são relacionadas geralmente a memórias mais profundas. Que a gente não tem consciência, mas age mesmo assim, mesmo não querendo agir. Com uma certa impulsividade.
Memória episódica
Possuímos o corpo mamilar, associado à memória episódica, que nos permite recordar acontecimentos específicos em nossa vida.
Lembrar desses episódios, como resgatar toda uma cena de quando eu tinha 5 anos, requer a contribuição dessa estrutura para auxiliar nesse processo.
Memória sequencial procedimental
Possuo uma estrutura chamada Putâmen, a qual está relacionada às habilidades e procedimentos, como, por exemplo, andar de bicicleta ou aprender uma receita.
Há uma sequência passo a passo envolvida nesses processos, e o Putâmen desempenha um papel significativo nessa relação.
Memórias emocionais fortes
A amígdala está relacionada às questões emocionais intensas. Assim, sempre que há aspectos emocionais marcantes, como estranheza, medo intenso, alegria extrema ou euforia, a amígdala está diretamente envolvida.
Em situações de grande prazer, a amígdala também é acionada. Já os lóbulos temporais, tanto o direito quanto o esquerdo, desempenham o papel de armazenar as informações que chamamos de conhecimento.
Memória semântica
Os nomes e as palavras são mais associados ao lado esquerdo.
Memória de nuances
As nuances abordam a tonalidade, o relevo das coisas, a tridimensionalidade, e são processadas no hemisfério direito.
Condicionamentos
O cerebelo é uma região associada às memórias com as quais estou condicionado.
Eu aprendo a realizar atividades, muitas vezes de forma intuitiva, com o meu corpo, e esses aprendizados são fixados no cerebelo.
Essa região está principalmente relacionada a aprendizados motores, embora também esteja envolvida em aprendizados emocionais.
Portanto, todas essas estruturas são de extrema importância para a formação de memórias.
Registro de informações
O córtex como um todo, especialmente o córtex parietal, occipital e temporal, desempenha um papel fundamental no registro de informações.
Ele está diretamente envolvido na obtenção de dados sobre o espaço ao meu redor.
As informações sobre o meu corpo e o ambiente ao meu redor são processadas nos lobos parietais.
As informações sobre linguagem, principalmente, mas também algumas outras informações, estão nos temporais.
Aspectos visuais
Em relação aos aspectos visuais, eles concentram-se na região occipital, localizada na parte posterior da cabeça.
Estado emocional e consolidação de memórias
É importante que os temporais, onde se localiza o hipocampo, estejam em um estado emocional ideal para a consolidação de memórias.
Esses temporais não podem estar excessivamente tranquilos, senão a memória não será registrada. No entanto, também não podem estar agitados demais, pois isso dificultaria tanto o resgate quanto o registro de memórias.
Síntese - Estruturas relacionadas à memória
Em síntese, o córtex pré-frontal é essencial para a formação e regulação da memória de trabalho, pois desempenha um papel crucial na regulação das informações sensoriais.
É necessário que a parte sensorial esteja funcionando adequadamente para permitir um bom desempenho no pré-frontal, considerado a sede da memória de trabalho.
O corpo estriado trabalha na memória dos procedimentos, compreendendo as estruturas dos gânglios da base.
O córtex, especialmente a parte sensorial na parte posterior da cabeça, está relacionado à percepção, à memória semântica e às projeções. Quando tentamos visualizar algo em nossa mente, criamos uma projeção dessa memória ou experiência nesses córtex, como se estivéssemos revivendo aquela situação específica.
A amígdala regula as questões emocionais, enquanto o cerebelo, junto com os gânglios da base, grava memórias mais implícitas e guarda informações sobre nossos hábitos.
O hipocampo está relacionado à memória declarativa, aquela que posso trazer de volta, que gravo.
Ao explorar o mundo, ao compreender o ambiente ao meu redor, gravo informações de forma intencional, possibilitando o retorno a essas lembranças sempre que necessário, seja para o trabalho ou para a escola.
Diversas estruturas são envolvidas, e, no final, todo o cérebro é engajado.
Portanto, é essencial estar atento a diferentes questões, uma vez que a saúde da memória fornece indícios sobre como está nosso cérebro e nossa saúde geral.
Dificuldades de atenção devido ao excesso de informações e estímulos
Se enfrentamos dificuldades de atenção, é provável que enfrentemos também desafios de memória.
Quando a memória não está em seu melhor estado, é bastante provável que a atenção esteja apresentando falhas.
Da mesma forma, se a atenção não estiver funcionando adequadamente, a memória também será afetada. Esse é um aspecto muito relevante nos dias de hoje, visto que as pessoas lidam com grandes obstáculos na atenção devido ao excesso de informações que as impacta.
O acesso a uma variedade ampla de informações, incluindo palavras, textos e outros tipos de dados considerados memória declarativa, é intensificado pelo constante fluxo de estímulos, como luzes e sons. Esse estilo de vida, cada vez resulta em menos movimento corporal e em uma tendência à vida sedentária.
Todos esses fatores têm um impacto significativo na nossa capacidade de atenção.
Estresse e memória
Outro fator intimamente ligado à memória, e diretamente afetado por ela, é o estresse.
Quando uma pessoa está vivenciando níveis elevados de estresse, significa que ela não está conseguindo lidar eficazmente com todas as situações que a cercam, certo?
Neste mundo moderno, muitas pessoas têm enfrentado problemas relacionados a isso, e quanto mais intenso o estresse, menor é a nossa capacidade de memória.
Estudos evidenciam uma correlação entre o aumento da amígdala, responsável por alertas e alarmes relacionados a perigos ou atrativos específicos. Isso nos leva a reagir impulsivamente, sem pensar, diante de estímulos que nos atraem ou nos ameaçam.
O crescimento da amígdala ocorre em ambientes ou situações percebidos como estressores, indicando que nosso organismo está sobrecarregado.
Paralelamente, há uma redução do hipocampo, o local onde armazenamos experiências. Isso faz sentido, já que em situações estressantes temos uma necessidade maior de reagir rapidamente, agir por impulso, ao invés de recorrer à memória para recordar procedimentos ou razões para a ação.
À medida que o mundo se torna mais acelerado, aumenta o nível de estresse para a maioria das pessoas, resultando em maiores dificuldades de memória.
Sono e memória
Outro aspecto profundamente relacionado à memória, e que impacta negativamente seu desempenho, é o sono e o descanso.
Atualmente, como sociedade, enfrentamos dificuldades para dormir, muitas vezes reduzindo o tempo de sono e desrespeitando os horários adequados
Muitas pessoas vão para a cama sem proporcionar a necessária desaceleração dos ritmos diários, sem reduzir as luzes e os estímulos auditivos, mantendo aparelhos eletrônicos ligados até a hora de dormir. Em alguns casos, simplesmente desligamos tudo quando já é tarde demais.
Esse padrão de sono inadequado resulta em uma qualidade de sono comprometida, afetando a eficácia do descanso.
Durante o sono, duas fases são particularmente cruciais: uma que promove a reparação do corpo e do organismo como um todo, incluindo aspectos celulares, e outra fase, um segundo ciclo, mais leve, onde ocorrem os sonhos e a consolidação das memórias de longo prazo.
Durante o dia, utilizamos o córtex pré-frontal para organizar nossas tarefas e responsabilidades, seguindo uma sequência precisa.
No entanto, é durante o sono que conseguimos realizar a restauração psíquica, aliviando o excesso de atividade cerebral. É nesse momento que ocorre o registro das memórias que perdurarão a longo prazo.
Se nos limitarmos apenas a aprender incessantemente, sem proporcionar períodos adequados de descanso e sono, teremos dificuldades em registrar memórias de longo prazo.
Portanto, o descanso e o sono são aspectos cruciais que, infelizmente, têm sido negligenciados em nossa sociedade. Se você enfrenta carências nesses aspectos, é bastante provável que apresente dificuldades de memória.
Memória e repetição, reforçando redes
À medida que envelhecemos, a memória tende a se tornar mais desafiadora quando associada a hábitos repetitivos. Como mencionado anteriormente, a repetição desempenha um papel crucial na memória. A memória é, essencialmente, a repetição de algo.
Para aprender a andar de bicicleta, é necessário tentar várias vezes. Da mesma forma, para dominar uma atividade escolar, é preciso praticá-la repetidamente.
Compreendemos que essa repetição fortalece as redes neurais envolvidas. Quanto mais utilizamos, mais essas redes se interconectam.
Envelhecimento e memória
Será mais difícil aprender à medida que envelhecemos?
O processo de aprendizado se torna mais desafiador com o tempo?
Quando adotamos hábitos de vida altamente repetitivos e nos concentramos exclusivamente em um único aspecto, um único tema, ou uma única atividade, acabamos desenvolvendo, nas estruturas fundamentais, padrões de hábitos cada vez mais restritos. Isso é feito para assegurar o bom funcionamento e para garantir que gastemos o mínimo de energia possível.
Entretanto, essa abordagem restritiva também nos limita. Ao criar hábitos rígidos e repetitivos, como “Eu já sei fazer isso, sempre faço dessa maneira…”, torna-se desafiador armazenar informações diferentes, pois estamos fortemente fixados em nossas rotinas e resistimos a gastar muita energia. O cérebro, naturalmente, busca minimizar o gasto excessivo de energia.
Assim, se desenvolvemos hábitos muito sólidos, repetidos ao longo do tempo, adaptar-se ou absorver novos conhecimentos se torna mais difícil. Isso acontece ao longo da vida, à medida que aprendemos padrões de resposta que funcionam para nós, restringindo a flexibilidade diante de novos aprendizados.
O hipocampo desempenha um papel crucial na geração de novos neurônios, mas quando confrontado com algo fora do habitual, algo que não está de acordo com nossos padrões estabelecidos, ativamos as amígdalas, aumentando o nível de estresse. Isso ocorre porque precisamos de mais energia para lidar com as novas informações, captar o desconhecido.
Esse processo é estressante e acaba reduzindo a geração de novos neurônios no hipocampo. Portanto, ao longo do tempo, torna-se mais desafiador aprender, especialmente quando associado a níveis elevados de estresse.
Aprender o que gostamos é mais fácil
Quanto maior o nível de estresse, ansiedade, preocupação, necessidade ou obrigação que me impõem para aprender algo, mais difícil será absorver isso.
O neurofeedback surge como uma solução, uma possibilidade, um caminho para aprender a regular tudo isso. Com o neurofeedback, realizamos um mapeamento cerebral; não treinamos apenas uma região específica e sim o cérebro todo (treinamento whole brain-training).
Não se trata de exercícios de memorização convencionais, como jogos ou textos para lembrar palavras, números ou nomes. Embora essas práticas ajudem a aprimorar a memória, o neurofeedback vai além de simplesmente gravar informações.
A memória não é só gravar coisas, não é só lembrar palavras, números, nomes. Memória é muito mais que isso e ela é muito importante para que eu possa antecipar situações. Então, por exemplo, para diminuir a ansiedade eu preciso ter uma boa capacidade de memorização.
Porque quanto mais inseguro eu estiver sobre o que vai acontecer, isso significa que eu tenho poucas memórias que me ajudam a lidar com coisas novas, maior o meu nível de ansiedade.
Esse é um problema que atormenta a sociedade.
No neurofeedback, realizamos um mapeamento cerebral e coletamos dados para identificar regiões com desafios específicos. Por exemplo, se houver lentidão em uma região frontal, especialmente do lado esquerdo, isso pode indicar dificuldades na primeira fase da memorização, tornando difícil absorver informações para criar memórias.
Com o neurofeedback, criamos um plano de treinamento após a coleta de dados e a identificação das regiões a serem trabalhadas. Sempre incluímos treinos
relacionados à atenção, visando aprimorar regiões identificadas como deficitárias ou desreguladas. Treinamos essas regiões para potencializá-las, melhorando assim a atenção e a memória.
Além disso, abordamos aspectos relacionados à ansiedade, como atividade rápida nos temporais, especialmente no temporal direito, responsável por lidar com novidades e aprendizado.
Se houver muita atividade rápida nessa região, indicando estresse, a pessoa enfrentará dificuldades significativas de aprendizado e memorização.
Se houver questões fortes quanto a emoções, as amígdalas vão disparar muito e pode surgir ansiedade e dificuldades de sono.
Portanto, treinamos todos esses aspectos ao lidar com queixas de memória.
Teta, beta, memória e aptidão para aprender
Outro detalhe importante é que às vezes não há estresse, mas, como também é evidenciado neste mapeamento, o lado temporal esquerdo pode apresentar pouca atividade de velocidades beta, conhecidas como a velocidade que usamos para processar as memórias.

Existem duas velocidades importantes, a Teta, também observada no mapeamento, de um lado, e a Beta, do outro. Ambas colaboram tanto para o resgate quanto para o processamento da memória.
Se há pouca atividade beta no hemisfério esquerdo em geral, mas principalmente nos temporais, a pessoa pode enfrentar dificuldades de memória.
Tanto a alta quanto a baixa atividade podem gerar problemas de memória.
Alta atividade beta indica elevado estresse, dificultando o resgate de informações, prejudicando a linguagem, cognição e outros aspectos.
Com pouca atividade, surgem dificuldades no registro e busca de memória, resultando em desorganização.
Portanto, é necessário analisar esses aspectos; não se trata apenas de treinar repetidamente ou de ensinar várias vezes para verificar se a pessoa registra uma memória.
A prática constante, o simples repetir, não necessariamente aborda todos esses aspectos.
Com o neurofeedback, é possível identificar os principais pontos, e os treinamentos associados a ele permitem reequilibrar o cérebro, tornando-o mais apto a aprender, memorizar e registrar o mundo ao seu redor.
Isso contribui para manter essa capacidade ao longo da vida.
Obrigado!
Espero que o texto tenha ampliado o seu entendimento sobre o processo de memorização e tenha ajudado a esclarecer aspectos importantes sobre a memória!
E que tenha ficado claro estes pontos:
- É necessário treinar todo o cérebro.
- É essencial observar vários aspectos para compreender as dificuldades que a pessoa está enfrentando.
Se você não é treinador cerebral e está buscando uma solução para suas dificuldades de memória, lembre-se de que problemas de memória a longo prazo podem indicar estresse, e o estresse pode levar a processos de desgaste cerebral e da saúde.
É válido procurar um treinador da rede para realizar seu treinamento com neurofeedback.
Já se você deseja se tornar um treinador cerebral da rede Brain-Trainer, basta nos procurar.
Autor: Marcelo Rutzen é treinador e supervisor de neurofeedback certificado pela Brain-Trainer. Ele atua em Itajaí/SC, em sua Clínica, chamada Espaço Aprender e é também o responsável por ministrar o Curso Avançado de Neurofeedback para treinadores.