Estudando a capacidade do cérebro de se adaptar
Embora a pesquisa com EEGq tenha focado na definição do cérebro energético, um ramo paralelo de estudo forneceu cada vez mais o feedback “em tempo real” para demonstrar que os cérebros são capazes de mudar seus próprios padrões. Este campo, muitas vezes chamado de neurofeedback ou EEG-biofeedback, nós chamaremos de treinamento cerebral.
Os hardwares e softwares de hoje para avaliação e treinamento de padrões de ativação do cérebro são menores e menos onerosos, ao mesmo tempo em que são mais poderosos e precisos. Milhares de educadores, terapeutas e treinadores de todo o mundo desenvolvido usam treinamento cerebral. A literatura clínica se concentra em medir a eficácia da intervenção para uma variedade de questões humanas.
Espelhos de Feedback para o Cérebro
O cérebro pode ser o órgão mais vaidoso. Ele passa a vida fazendo coisas no mundo exterior e olhando para ver o que o resultado. Mas a maioria das experiências não fornecem um espelho muito claro. Eu digo algo agora para minha esposa, e ela ri. Eu digo a mesma coisa duas horas mais tarde, e ela fica com raiva. O espelho não é objetivo; é, na verdade, confuso.
O feedback digital de padrões de ativação cerebral tem o potencial de ser um espelho perfeito. Quando meu cérebro produz muita atividade de frequência excessiva, o feedback me mostra a mesma coisa o tempo todo. Você pode aprender a mexer suas orelhas olhando em um espelho e tentando várias coisas até obter um resultado. Sem o espelho, ele leva uma eternidade.
Mas existem bloqueios potenciais para a eficácia deste espelho. Um desses bloqueios críticos vem de dentro. O outro vem de fora.
A Influência da Mente Consciente no Treinamento Cerebral
Falaremos mais sobre a diferença entre cérebro e mente consciente, na medida em que seguimos adiante. Meditadores frequentemente se referem à “mente de macaco”; psicólogos podem usar o termo “ego”. É aquele tagarelar incessante dentro da minha cabeça – às vezes muito útil; às vezes um verdadeiro empecilho à experiência e ao desempenho.
Eu defino “mente” como minha experiência pessoal do meu “cérebro”. A mente consciente cavalga sobre o cérebro como o córtex faz, e de fato, o córtex produz a mente consciente.
Quando você estava aprendendo a andar de bicicleta, você subia, pedalava e caia. Isso é o feedback: “Não, essa não é a forma correta.” Você se levantava, tentava de novo e caía de novo. Mais feedback. Eventualmente, você conseguia montar e passear.
Ninguém poderia mensurar o que havia mudado, mas seu cérebro “aprendeu” – ele estabeleceu um novo padrão, combinando equilíbrio, pedalada, direção, visualização, etc. Talvez você tenha tido alguém que o ajudou a ficar em cima da bicicleta com menos quedas até que seu cérebro tenha aprendido. Isso seria um “feedback de direção”, ao mesmo tempo em que continua sendo um aprendizado do cérebro.
Talvez você tenha tido alguém que te “treinou”, te forneceu feedback à medida que tentou e aprendeu.
Joe Kamiya, um dos pioneiros do treinamento cerebral, foi o primeiro a demonstrar que oferecendo feedback ao cérebro sobre seus níveis de alfa ajudou-o a mudar esses mesmos níveis. Kamiya pediu a vários dos melhores sujeitos do seu primeiro grupo para desenvolver um “manual” para os sujeitos posteriores sobre como aumentar alfa. Sendo um pesquisador, ele apenas compartilhou essa informação com metade dos novos sujeitos experimentais. O resultado? As pessoas que não receberam as orientações acabaram aprendendo mais rápido.
No treinamento cerebral, uma das maiores dificuldades é que a mente consciente fica interferindo entre o cérebro e o espelho, dizendo ao cérebro o que o feedback significa, dizendo-lhe o que fazer na próxima tentativa, ficando frustrado. É importante que você permaneça apenas prestando atenção ao feedback em uma sessão de treinamento.
O mantra que eu uso é, “não pense, não tente, não julgue.”
Feedback: O Espelho da Mudança
Uma das coisas que eu mais frequentemente lembro aos novos treinadores é que “o seu tédio não é uma desculpa para ficar mexendo com o cérebro de outra pessoa.” Recentemente uma pessoa interessada em treinar a si mesmo me disse que seu treinador o havia alertado que não era possível se auto treinar. Era crucial, segundo ela, que alguém ficasse ajustando as metas constantemente para que o feedback fosse útil.
Eu lhe pedi para imaginar que ele estava treinando para correr uma corrida com obstáculos. A altura da barreira seria crucial. Se elas fossem 30 centímetros menor seria tão fácil que não seria um desafio. Se fosse 1 metro mais alto, seria simplesmente frustrante.
Mas uma maneira de tornar o treinamento inútil seria tendo um treinador alterando a altura de cada obstáculo à medida que você conseguisse pular. Como você poderia aprender dessa forma? Poderia ser mais divertido para o técnico, mas isso iria destruir o treinamento.
Estamos treinando o cérebro para seguir o feedback e não treinando o feedback para seguir o cérebro!
Autor: Peter Van Deusen é um visionário treinador de cérebros que estuda, desenvolve e aplica a técnica há mais de 30 anos. É o fundador da Brain-Trainer International e possui gravações em português de aulas Master Class de aprimoramento para treinadores de neurofeedback.